O que não contam sobre o formato híbrido de trabalho

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March 4, 2021
5 min read

O modelo híbrido de trabalho tem se mostrado o novo sonho de consumo das pessoas e também das organizações brasileiras em 2021.

Bom, isso já não é nenhuma novidade e alguns motivos explicam isso.

Do lado dos profissionais, a vontade de sair de casa para trabalhar é um efeito colateral óbvio do trabalho remoto pandêmico. Isolados do mundo externo, do convívio social do trabalho, com dificuldades de lidar com a mistura dos assuntos domésticos e profissionais faz bastante sentido o desejo de um grito de liberdade.

Falando do lado da empresa, a grande preocupação é a manutenção da cultura organizacional e do sentimento de pertencimento das pessoas - que poderia ser comprometido pela distância física.

O sonho de sair agora é o sonho de voltar

Vivemos tempos tão loucos, que o grito de liberdade agora é para voltar para o escritório. O desejo de se livrar da rotina e da saga diária para chegar ao trabalho se transformou em uma vontade incontrolável de reviver o ambiente corporativo como um saudoso reencontro.

Em tese, o formato de trabalho híbrido junta o melhor dos dois mundos. A liberdade de poder escolher o local de trabalho, com a possibilidade de conviver com a sua equipe, viver a atmosfera da cultura da empresa e desfrutar da estrutura de um escritório.

No entendo existe uma complexidade escondida ou não tão considerada nesse modelo. Como lidar ao mesmo tempo com pessoas que estão dentro e fora da sede da empresa?

Quando todas as pessoas da empresa foram da noite para o dia para casa e tiveram que fazer o trabalho acontecer dessa forma os desafios enfrentados foram imensos, os quais continuam reverberando até hoje. Resolvendo no improviso, experimentando, ou buscando uma capacitação mais intencional, uma parte já tem sido superada e inclusive o mito da produtividade já não assombra tanto mais.

O que talvez ainda não esteja tão claro é que os desafios de um modelo híbrido são diferentes dos desafios que enfrentamos com todas as pessoas espalhadas em locais diferentes.

Existe uma premissa do trabalho remoto que diz que os colaboradores de uma empresa precisam ter a mesma experiência, independente de onde estejam.

Isso envolve o acesso às informações e materiais de trabalho, participação na tomada de decisões, atualização sobre novidades e mudanças não programadas, e obviamente o sentimento de pertencimento.

O ambiente híbrido é desigual por natureza

O trabalho híbrido de fato pode ser colocado em prática de inúmeras formas. Mas em todas elas é preciso lidar com a complexidade de duas camadas diferentes e desiguais. As pessoas que estão juntas presencialmente, e a outra parte da equipe que atua remotamente a esse espaço.

É aí que o negócio começa a desandar.

A empresa permite que os seus colaboradores trabalhem em home office de acordo com a sua escolha, mas quando trabalham de casa não sabem o que está acontecendo na empresa, são os últimos a saber de decisões que foram tomadas, e ficam com aquela péssima sensação de que estão sempre perdendo alguma coisa que está rolando por lá.

Além disso, em alguns casos toda a liderança da empresa trabalha sempre no escritório, sendo raro ver os gestores trabalharem dias seguidos à distância. De forma inconsciente o trabalho remoto é visto como prática secundária e não tão desejável.

E assim começam a ser observadas práticas diferentes que vão derivando sub-culturas dentro da própria organização.

Posso trabalhar de casa mas nem quero correr esse risco

O que era para ser um motivo de flexibilidade acaba se tornando um peso.

Sabe aquela máxima que diz que quem não é visto não é lembrado? E quando falamos de reconhecimento, feedback, oportunidades de promoção e crescimento dentro da empresa?

Será que alguém vai querer usufruir dessa flexibilidade e correr o risco de estar sempre tendo menos privilégios?

Mas então? É possível uma empresa híbrida fortalecer a sua cultura a partir desse modelo?

A resposta é sim. Mas com um pequeno grande detalhe que muda tudo em uma empresa que opera com as pessoas distribuídas.

O digital não exclui o físico, mas o físico exclui o digital caso o ambiente online não seja adotado como padrão.

Essa abordagem remote-first já é amplamente difundida em empresas que possuem uma cultura remota madura, e consiste justamente em entregar a mesma experiência para o colaborador, independente dele frequentar o escritório uma vez por semana, cinco vezes por semana, ou nunca.

Se uma pessoa está remota, todas as outras estão.

Essa é a forma mais eficaz e inteligente de garantir que possam estar na mesma página. Algo como um ato de empatia extrema que faz questão de assegurar essa inclusão de todos.

Quando o ambiente digital não é o padrão, mesmo de forma não intencional, quem está fora da bolha do escritório vai sutilmente sendo deixado de fora. E isso gera uma frustração que vai impactar na retenção do colaborador ali.

Da mesma forma que a transparência gera confiança, a falta de transparência gera desconfiança, e aí vai tudo por água abaixo.

As empresas não precisam ser 100% remotas, mas precisam ser remotas primeiro.

Isso envolve tomar decisões priorizar sempre na experiência de quem não pode estar fisicamente. Tomar decisões no ambiente digital por padrão, valorizar a comunicação assíncrona e escrita, possuir uma política clara de trabalho remoto e usar ferramentas que favoreçam esse ambiente.

Dito isso, o que esse texto propõe não é defender que os escritórios não fazem mais sentido - embora em alguns casos isso seja verdade - ou mesmo afirmar que o formato mais correto é totalmente remoto.

Como seres sociais, o convívio entre as pessoas é essencial, necessário.

O encontro presencial tem enorme potência na criação da identidade do grupo e da cultura. Mas para trabalhar de forma eficiente e verdadeiramente distribuída, é no digital que isso será possível.

Dessa forma, a comunicação mais assíncrona serve para que o trabalho seja melhor organizado, estruturado e bem feito, e a comunicação mais síncrona e os encontros são importantes para a nutrição dos vínculos e fortalecimento das relações.

Se a sua empresa permite seguir com o formato híbrido, crie condições para que estar fora do escritório seja tão desejável quanto estar dentro.

Não porque dependemos dele, mas porque faz sentido estar lá.

Assim como não existe nenhuma desvantagem para quem está remoto, não existe nenhuma vantagem adicional para quem está no escritório.

Flexível mesmo é ter o poder de escolha e essa decisão não causar dúvidas sobre o que vou encontrar no dia de amanhã quando for pra casa ou quando decidir visitar o escritório.

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